Se houvesse algum ponto positivo na epidemia do coronavírus, o motivo estaria no fato de estarmos diante de indícios de uma revolução no campo do sequenciamento genético. A agilidade no desvendamento da epidemia indica que há um novo marco na ciência, capaz de trazer respostas em tempo recorde à população.
“Quando nós começamos demorava quase quatro anos, uma tese de doutorado, para sequenciar um gene de mais ou menos uns três mil pares. Hoje, pode ser sequenciado o genoma inteiro humano, quatro bilhões de pares, em um dia, só para se ter uma ideia de como evoluiu a tecnologia”, afirma o professor do Instituto de Biologia da Unicamp, Paulo Arruda. O docente foi um dos membros da equipe que analisou a Xylella fastidiosa, o primeiro ser vivo a ser sequenciado geneticamente no Brasil, em 2000, e o primeiro fitopatógeno a ser sequenciado no mundo. Naquela época, mesmo utilizando as tecnologias mais modernas, foram necessários três anos para finalizar a pesquisa. Duas décadas depois, as metodologias e equipamentos aprimorados permitiram com que o sequenciamento do coronavírus no Brasil, pela equipe do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Universidade de São Paulo (USP), do Adolfo Lutz e de Oxford, fosse realizado em dois dias.
Paulo, que atua também no Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho (LaCTAD) da Unicamp, explica que as melhorias das tecnologias só foram possíveis graças a um trabalho multidisciplinar. “A evolução das tecnologias aconteceu e acelerou em função do desafio de sequenciar o genoma humano, lá no início da década de 1980”. Físicos, químicos e biólogos entraram na jogada e, em 2000, foi divulgado o primeiro sequenciamento do DNA humano, resultado de 10 anos de pesquisa. O trabalho, que envolve descobrir a ordem das bases nitrogenadas que compõem o DNA, teve o custo de bilhões de dólares. Hoje, as máquinas que atuam no sequenciamento, além de velozes, são cada vez mais acessíveis.
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