Enquanto governos do mundo todo ainda trabalham para mitigar os efeitos da Covid-19 que ainda continua a se espalhar em diversos países, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Johns Hopkins (JHU), nos EUA, apontam para o caráter sistêmico da doença, que apesar de atingir principalmente o sistema respiratório, também atinge o sistema cardiovascular, podendo causar infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e outras formas de lesão vascular.
Publicado no prestigiado periódico Atherosclerosis, o estudo institulado Coronavirus disease-19: The multi-level, multi-faceted vasculopathy apresenta os resultados da revisão de 107 publicações disponíveis nas plataformas on-line MedRxiv e LitCovid (PubMed), no período entre novembro de 2019 e agosto de 2020. A publicação se destacou estando entre as 10 mais citadas no periódico no ano de 2021.
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Segundo explicou o médico cardiologista e pesquisador principal do estudo, Andrei Carvalho Sposito, as evidências mostram a vasculatura e o endotélio entre os principais alvos do vírus SARS-CoV-2. “Observamos que a Covid-19 desencadeia diversas manifestações vasculares, envolvendo diferentes níveis do leito vascular. Manifestações estas, decorrentes de efeitos pró-inflamatórios, pró-trombóticos e aumento da reatividade vascular”, comentou.
Neste contexto de comprometimento do sistema vascular e das células endoteliais, Andrei explica, também, que muitas intervenções vêm sendo testadas, dentre as quais, a administração de drogas que atuam nos aspectos trombóticos e inflamatórios do endotélio, cujos os efeitos variam “desde à restauração da estrutura até a atenuação da disfunção das células da parede arterial”.
A pesquisa conjunta da Unicamp e JHU é mais um passo da comunidade científica global sobre a fisiopatologia da Covid-19, que avança em ritmo acelerado na compreensão do aspecto sistêmico da doença. Nesse sentido, os pesquisadores demonstram que o sistema vascular e particularmente a camada endotelial dos vasos sanguíneos são alvos da Covid-19, mediadores das manifestações agudas e crônicas após a doença, e potenciais focos terapêuticos na mitigação das consequências tardias. Na opinião de Andrei “o reparo da inflamação arterial pós-Covid está entre as principais metas no controle efetivo da pandemia”.